quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A terapia comunitária como política pública

Doralice Oliveira Gomes*

Pouco a pouco se fez (e se faz) um caminho

A TC é uma metodologia que proporciona o encontro entre as pessoas para que conheçam melhor a si e à comunidade em que vivem, e juntos busquem alternativas para lidar com os problemas do cotidiano.

A TC foi criada e aprimorada pelo Prof. Dr. Adalberto Barreto da Universidade Federal do Ceará a partir de sua experiência com os moradores da favela do Pirambu em Fortaleza-Ceará. De início enfrentou o desafio de favorecer a saúde comunitária e a inserção social lidando com a complexidade vivenciada pelas pessoas com baixa renda. O principal desafio foi unir o saber acadêmico e o saber popular numa perspectiva de complementaridade, num ?choque criativo?, como ele mesmo nomeia, de modo a ampliar as possibilidades de resolução dos problemas vividos no cotidiano (Barreto, 2008).

A utilização e o aprimoramento desta metodologia ao longo dos anos têm demonstrado, por meio de pesquisas, resultados muito relevantes na atuação junto às comunidades, em especial com maiores vulnerabilidades sociais. Tais resultados possibilitaram que a TC adquirisse status de política pública em âmbito municipal, estadual e federal (Camarotti e Gomes, 2008).

A Terapia Comunitária

Conforme apresentado a Terapia Comunitária é uma metodologia de intervenção nos grupos sociais que objetiva a criação e o fortalecimento de redes sociais solidárias. Alicerça-se no princípio que a comunidade possui seus problemas mas também desenvolve estratégias para lidar com sua realidade. A TC é um espaço de acolhimento para as pessoas que favorece a troca de experiências entre elas. Todos têm oportunidade de reconhecer os saberes adquiridos com a experiência de vida e a colaborar com o seu bem estar, auto-conhecimento, auto-estima e também dos demais participantes do grupo.

A TC foi desenvolvida segundo os seguintes pilares teóricos: pensamento sistêmico, antropologia cultural, teoria da comunicação, pedagogia de Paulo Freire e resiliência (Barreto, 2008). Estes fundamentos evidenciam que a base de sustentação da TC está ancorada na visão complexa dos fatos, no respeito à diversidade cultural, no resgate e valorização dos saberes adquiridos e na capacidade de superação das pessoas.

Para que a TC aconteça é necessária a presença de um terapeuta comunitário. Ele é responsável pela condução do grupo de acordo com os princípios e a sistemática da TC.

O terapeuta comunitário à medida que coordena possibilita que as histórias de vida dos participantes sejam valorizadas, assim como seus recursos culturais. É um processo que favorece o resgate da identidade individual e coletiva, da auto-estima, da confiança em si, da ampliação da percepção dos problemas e possibilidades de resolução (Senad, 2006).

Pesquisa realizada em 2005/2006 com base em 12.000 rodas de terapia comunitária identificou vários benefícios propiciados pela participação nos grupos. Destacou-se dentre os dados levantados que das situações problema trazidas pelos participantes apenas 11,5% necessitaram encaminhamento para serviços especializados, ou seja, 88,5% encontraram resolutividade na própria TC e nos recursos locais como grupos de ajuda-mútua, vizinhos, entre outros, evidenciando a força de auto-cuidado existente na própria comunidade (Barreto, 2008).

A pesquisa mostrou que os grupos sociais têm iniciativa nos seus processos de cuidado, não ficando a cargo somente de serviços especializados. Outra reflexão que reforça a concepção da capacidade de auto-cuidado dos grupos é a constatação de que a promoção de redes sociais que resultem em vínculos de solidariedade entre as pessoas constitui-se num fator de promoção à saúde individual, familiar e coletiva.

A Terapia Comunitária nas políticas públicas


Os resultados demonstrados ao longo dos anos têm chamado a atenção de autoridades governamentais que reconhecem a contribuição da TC na promoção da qualidade de vida das pessoas. Estes benefícios fundamentaram o posicionamento da TC como uma política pública em várias áreas como a educação, saúde, segurança pública, justiça e ação social.

O baixo custo, a alta efetividade, o empoderamento das comunidades e a busca de soluções participativas alicerçam a TC como uma política pública adequada no atendimento das diversas e complexas demandas presentes no contexto social brasileiro.

Outro dado relevante que favoreceu o apoio governamental diz respeito à grande capilaridade do movimento da TC no Brasil. A rede da TC é ampla, contando com 12000 terapeutas comunitários que atuam em suas comunidades como voluntários ou associando a TC à sua atuação profissional (pública ou privada). A formação e o acompanhamento dos grupos também encontram-se estruturados. Todas as regiões brasileiras possuem Pólos de Formação, num total de 36, e os terapeutas comunitários estão organizados pela Associação Brasileira de Terapia Comunitária ? ABRATECOM .

A seguir serão apresentados alguns exemplos de validação oficial da TC no âmbito das políticas públicas. A TC é reconhecida pelo Ministério da Saúde como uma política pública de saúde na atenção básica às famílias. O Ministério da Saúde está investindo na capacitação de profissionais do Programa Saúde da Família em Terapia Comunitária. O objetivo é que a prática da TC seja incorporada às ações do PSF com uma estratégia de saúde da família.

A Secretaria Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas da Presidência da República também valida a TC como uma política pública que contribui na prevenção, tratamento e reinserção social de usuários e familiares de dependentes de drogas. Investiu na capacitação de 800 profissionais e lideranças comunitárias nos anos de 2005 e 2006 para ampliar e fortalecer a rede de atenção relacionada à atenção na área de drogas.

Outro exemplo de destaque é o reconhecimento da TC pela Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza. No momento atual integra as ações da rede de saúde primária do município.

A TC faz parte hoje das políticas públicas de saúde e de prevenção e atenção na área de drogas. Estes são exemplos significativos à medida que evidenciam um percurso que foi construído e consolidado a muitas mãos, com especial ênfase na participação comunitária.

A experiência trilhada pela TC para a validação como política pública é notória. Foram necessários anos de saberes acumulados, persistência diante de inúmeros obstáculos, permanência e aprimoramento da ação, articulação entre pessoas e instituições do país, participação das comunidades envolvidas e validação por pesquisa.

Vemos, desta forma, a caminhada iniciada há mais de 20 anos pelo Dr. Adalberto e os moradores do Pirambu consolidando-se e aprimorando-se ainda mais, contribuindo para a grande rede de atuação comunitária existente no país que busca efetivamente colaborar para que as pessoas possam viver bem, com qualidade. O princípio da solidariedade, base de sustentação da TC, é reforçado pela importância da articulação entre governo e sociedade e entre os próprios movimentos sociais existentes. O objetivo é comum a todos: contribuir para o bem estar social. O reconhecimento desta rede é fundamental para que este objetivo possa ser alcançado.

A TC reconhece-se como um elo importante neste tecido social e busca, da melhor forma possível, contribuir nos contextos onde atua. Consciente de que um elo é tão mais forte quanto a força da rede que integra. É como diz a canção ?um mais um é sempre mais que dois?.

Referências bibliográficas

BARRETO, A. (2008) Terapia Comunitária Passo a Passo. Fortaleza, Grática LCR, 2005. p.335.

CAMAROTTI, M.H.. GOMES, D. O (2008) Terapia Comunitária: circularidade nas relações sociais. In Osório, L. C. e Valle,M. E. P. Manual de Terapia Familiar.ArtMed. RS

SENAD. (2006) A Prevenção do Uso de Drogas e a Terapia Comunitária. Brasília, 2006.


Doralice Oliveira Gomes. Psicóloga, terapeuta comunitária, coordenadora administrativa da implantação da Terapia Comunitária na Rede SUS, coordenadora pedagógica da implantação da Terapia Comunitária nas comunidades indígenas, consultora de projetos governamentais, não governamentais e de organismos internacionais, ex-coordenadora geral de prevenção da Secretaria Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas. E-mail: doralice32@hotmail.com

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A terapia comunitária como ferramenta de inclusão social

Nos dias de hoje, muito se ouve falar sobre inclusão social. Para quem, como eu, tem estudado a marginalidade social desde pontos de vista sociológicos, o conceito de inclusão social remete a uma integração de setores marginalizados no quadro da estrutura social vigente.

No contexto destas breves reflexões que hoje quero partilhar com vocês, a inclusão social tem um aspecto de integração da personalidade e integração na sociedade.

Nas rodas da terapia comunitária, que é chamada de integrativa e sistêmica, as pessoas passam a perceber a unidade das suas vidas, o fio condutor que costura, unificando, os fatos primeiros e derradeiros das suas vidas. Isto ocorre de várias formas.

A história pessoal de cada um e de cada uma vem a tona, e se emparenta com as histórias de vida dos outros presentes. A saída da roça ou da cidade pequena para a grande cidade, para a periferia urbana, com a conseqüente sensação de perda de identidade, são sentimentos comuns aos migrantes no Brasil e em qualquer parte do mundo.

Mudam os costumes, deixo de ser alguém inserido numa trama de relações habituais, para passar a ser algo estranho, um desenraizado, uma alma penada, como diz Adalberto Barreto em “As dores da alma dos excluídos no Brasil”. Quando passo a fazer parte da roda da terapia, começa a se costurar a minha própria história, ela ganha coerência e consistência. Já não sou mais um João ninguém.

Outros pronunciam meu nome uma vez à semana, ao menos. São lembrados os aniversários, canta-se e dança-se juntos. Muitas donas de casa que não saiam das suas casas, vêem outras pessoas, sorriem, encontram um sentido maior no seu viver, do que meramente atenderem marido e filhos que, muitas vezes, tem suas próprias vidas à margem da delas.

Aposentados que apenas viviam à espera da morte, recuperam a alegria de viver, brincam, contam chistes, dançam nas rodas e entoam orações com crianças, com jovens, com estudantes e doutores da universidade e técnicos em saúde, agentes comunitários, etc. A integração funciona para todos, para os de baixo e os do meio, na verdade, uns e outros geram uma mandala giratória, em que ninguém sabe quem é o outro.

Apenas um igual, alguém que como eu se perdeu ou se perde ainda, e se reencontra. Assim, a inclusão funciona para dentro e para fora da pessoa. Eu me incluo na medida em que me sinto incluído numa história comum, numa fala comum em que me reconheço. Neste sentido, inclusão e integração, funcionam quase como sinônimos.

Os estudantes e doutores, médicos e professores, por sua vez, quebram a barreira do isolamento que a educação superior produz com freqüência, e se redescobrem gente, apenas gente. Nestas rodas, se processam momentos de encontro das pessoas consigo mesmas, motivo pelo qual pode se dizer, como conclusão destas breves considerações, que a terapia comunitária é uma ferramenta de inclusão social.

domingo, 24 de janeiro de 2010

A Terapia Comunitária na dependência dos Benzodiazepínicos: experiência do NASF Céu Azul-Camaragibe, PE

Jandira Saraiva*

Gostaria de informar, relatar, as experiências que estão acontecendo no município de Camaragibe (PE), todas ligadas ao Territorio III , sob a supervisão do NASF Céu Azul, desde julho de 2009. Estamos implantando, através das Unidades de PSF, grupos de usuários dependentes de Benzodiazepínicos (Há pessoas que usam há mais de 25 anos...), com utilização da Terapia Comunitária e sua filosofia.

Introduzir idéias novas, que vão requerer a participação dos comunitários no próprio tratamento, saindo do lugar passivo, de apenas tomadores de remédios da tarja preta, como se fossem "Mágicos", é um grande desafio. Significa, como propõe a TC, ir paulatinamente oferecendo espaço de acolhimento e principalmente de "escuta" respeitosa, interessada, atenta, permitindo a compreensão dentro de cada um, de que eles podem usar as palavras, o falar, para não deixar o corpo falar por eles, doentemente.

É um trabalho lento, pois implica em mudanças de posturas, de visão do mundo, de reconhecimento de qualidades, e que nem sempre é necessario ter " o anel" para coordenar um grupo,já que todos têm condições de trocar,de ensinar e aprender.

Notamos pequenas mudanças, já: o medo de ficar sem o medicamento caiu bastante; a consciência de que há alternativas, como a fitoterapia e exercícios, se mostra presente. E, o que consideramos fundamental, evidencia-se: a gradativa conscientização de que as mudanças devem também partir dos usuários; a confiança em que há caminhos na propia comunidade; a cooperação das Igrejas Evangelicas e Católicas, faltando ainda os Centros Kardecistas.

Mas isso ainda é pouco, face a multiplicidade dos problemas detectados, entre eles: abuso sexual, violência domestica, gravidez precoce etc. Assim pensando, o NASF III está articulando uma reunião entre o Ministerio Publico (Dr GilbertoLúcio, MP-PE e ABEAD) e a Promotora de Camaragibe, com a intenção de reciclar os conselheiros e dar-lhe a consciência de sua missão.

Todos esse fatos e buscas, estão ligadas à TC, à filosofia que a norteia, à pratica das dinâmicas e ao favorecimento da integração de diferentes colaboradores, que ela permite e que muito nos cativa.

O desejo de que outras experiências deste tipo possam surgir já, nos motiva a divulgar este informe sobre os primeiros meses do nosso trabalho, firmando o compromisso de seguir divulgando seus passos.

*Jandira Saraiva - Psiquiatra, Nasf III, Camaragibe PE; Terapeuta Comunitária (SENAD, 2006)"

domingo, 17 de janeiro de 2010

Adalberto Barreto: Terapia Comunitária

Entrevista com Adalberto Barreto, no site da rede Nacional de Mobilização Social

Basta colar o link na barra de navegação e clikar

http://www.coepbrasil.org.br/portal/publico/apresentarConteudo.aspx?CODIGO=C200832920140625&TIPO_ID=3

Terapia Comunitária: Publicações

GUIMARÃES, F. J.; FERREIRA FILHA, M. O. REPERCUSSÕES DA TERAPIA COMUNITÁRIA NO COTIDIANO DE SEUS PARTICIPANTES. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 08, n. 03, p. 404 - 414, 2006. Disponível em http://www.fen.ufg.br/revista/revista8_3/v8n3a11.htm

HOLANDA, V.R.; DIAS, M. D.; FERREIRA FILHA, M.O.; CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA COMUNITÁRIA PARA O ENFRENTAMENTO DAS INQUIETAÇÕES DAS GESTANTES. Revista Eletrônica de Enfermagem, v.09, n.01, p 79-92, 2007. Disponível em http://www.fen.ufg.br/revista/v9/n1/v9n1a06.htm

ROCHA, I. A.; BRAGA, L. A. V.; TAVARES, L. M.; ANDRADE, F. B.; FERREIRA FILHA, M. O.; DIAS, M.D.; SILVA, A. O.; A TERAPIA COMUNITÁRIA COMO UM NOVO INSTRUMENTO DE CUIDADO PARA SAÚDE MENTAL DO IDOSO. Rev. bras. enferm. vol.62 no.5 Brasília Sept./Oct. 2009. doi: 10.1590/S0034-71672009000500006. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672009000500006&lng=en&nrm=iso

sábado, 9 de janeiro de 2010

Os valores na formação do terapeuta comunitário

Na terapia comunitária, a pessoa se reencontra com o que ela é, com seu ser mais profundo. Quando você começa a participar das rodas da terapia, você percebe que não está só nem isolado, que a sua história não está solta nem você desgarrado. A sua vinda para a cidade, se você veio do interior ou de outro estado ou, ainda, de outro país, é um caminho que muitas pessoas na roda fizeram. Aos poucos, você vai se sentindo mais coeso, mais integrado, mais parte de um todo. Esse todo é você mesmo, a pessoa que você é. A soma de pequenos e não tão pequenos atos e decisões, fatos da sua família e do seu povo, da sua cultura e das situações que você passou para chegar aonde está, para vir a ser quem você é.

Como foi escolhido o seu nome, qual dos filhos ou filhas da sua família você é, como foi o seu nascimento, todos são fatos que compõem essa diversidade conflitante ou não, em movimento, em perpétua reorganização, que cada um de nós é, que todas as pessoas são. Na formação como terapeuta comunitário, cada um de nós da um mergulho profundo na sua história, nas suas raízes, na caminhada que o fez chegar a ser quem é e a estar aonde está.

Muitas vezes na primeira roda, a primeira vez que comparece a uma terapia comunitária, a pessoa descobre que ela não é a única que sofre dessa dor ou que passa por essa dificuldade que lhe tira o sono, que a faz sentir alguém sem um lugar. Na primeira intervisão dos terapeutas comunitários formados em Salto, Uruguay, em novembro de 2009, tive a oportunidade de ouvir a história de um homem que entrou na roda da terapia comunitária, na sua cadeira de rodas, e saiu aliviado, dizendo: “Eu achava que eu fosse o único”.

Quando você descobre que a sua dor não é a maior do mundo, que a sua perda, a dor que você acarretou durante anos, o não gostar de si mesmo ou de si mesma, que lhe foi inculcado por circunstâncias que você aprende a decodificar e compreender, ou por situações perante as quais você foi forçado a se submeter sem poder reagir para preservar a sua identidade, você começa a fazer o caminho de volta.

Se diz que a terapia comunitária é integrativa e sistêmica. Integrativa, porque a pessoa passa se perceber como uma unidade, não mais como um pedaço ou fragmento. Sistêmica, porque a sua vida, a sua história, as coisas em que cada um de nós crê e que nos dão razão e sentido para viver, são comuns a um povo e a uma cultura. Na formação do mesmo grupo de terapeutas comunitários do Uruguay, em julho de 2009, tive a oportunidade de intervir, com os conteúdos sobre "os valores na formação do terapeuta comunitário". Lembro como se fosse agora, as expressões nos rostos dos participantes da formação. A alegria de se saberem partes de uma história, descobridores e descobridoras de si mesmos.

Na ocasião, entre outras coisas, se falava do lugar e do papel de cada um e de cada uma na vida, o lugar que cada um e cada uma ocupam, lugar insubstituível. Em outra formação, no interior da Paraíba, na cidade de Souza, uma formanda expressava com veemência: Eu sou o que eu sou, e não o que os outros querem que eu seja. Essa expressão, seu profundo significado, vão trazendo você de volta.

Quando fui para o Uruguay em 2005 pela primeira vez, participei de uma sensibilizaçaão em terapia comunitária na Universidad de la República, na Faculdade de Enfermagem. Nessa oportunidade, por primeira vez na minha vida me encontrei com um grupo de pessoas que tinham sobrevivido, como eu, a uma ditadura. Ouvia as histórias de todos e de todas, e aos poucos a minha história foi ganhando um outro significado, uma outra solidez e consistência.

Isto ocorre nas rodas da terapia. Na história do outro, me reconheço. Essa história evoca a minha própria história. É o que se chama de escuta ativa, uma das ferramentas do terapeuta comunitário. E vou deixando por aqui, na expectativa de ter atiçado a sua curiosidade, querido leitor ou leitora, para vir a fazer parte dessa roda, caso já não o faça.