sábado, 21 de maio de 2016

MISC-PB realizou workshop "Revisitando a Terapia Comunitária Integrativa"

Ontem foi realizado um workshop "Revisitando a Terapia Comunitária Integrativa," pela equipe do MISC-PB (Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba), em João Pessoa, PB. 

Um tempo para que a pessoa se volte para si mesma, trabalhe suas emoções, reconecte com seus valores e com a sua história de vida. 

Este ano, será realizado um encontro com as mesmas características, todo mês. 

Estas atividades estão abertas à comunidade em geral, e contribuem para o auto-conhecimento, a construção de vínculos solidários, e a diminuição do sofrimento mental. 

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Revisitando a Terapia Comunitária Integrativa

O Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba-MISC-PB está oferecendo um workshop para terapeutas comunitários/as:



sexta-feira, 25 de março de 2016

A Terapia Comunitária Integrativa no enfrentamento da violência, dependência e estresse

Por Adalberto Barreto

Palavras de abertura do VIII Congresso Brasileiro e V Congresso Internacional de Terapia Comunitária Integrativa, Ouro Preto, MG, 16 a 19 de setembro de 2015. Centro de Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto.
Nós Terapeutas Comunitários do Brasil e de outros países, estamos nos reunindo pela oitava vez, para refletirmos sobre nossas ações e compartilharmos nossas experiências. Desta vez, teremos como tema central uma reflexão sobre a Terapia Comunitária Integrativa no enfrentamento da violência, dependência e estresse.
Todo ser humano nasce incompleto e por isso, necessita do outro para viver. Esta falha inata, que podemos chamar de “precariedade sadia”, é o motor da construção dos vínculos inter-humanos, familiares e sociais. «Os seres humanos, livres e iguais em direito, nascem e permanecem precários ao longo de suas vidas, a medida em que eles absolutamente precisam dos outros para viverem.»
(1) Esta precariedade saudável nos lembra que precisamos ser protegidos em nossa fragilidade, acolhidos com afeto, respeitados em nossa singularidade, reconhecidos em nossa diferença, apoiados em nossa ação, valorizados pelo que somos e não pelo que produzimos.
O crescimento econômico, defendido pela Política neoliberal, é obtido atualmente por meios pouco humanos, que causam imensos sofrimentos; tem destruído recursos socioculturais, e tornado as pessoas mais dependentes e menos autônomas; tem fragilizado os princípios da vida: a confiança em si mesmo, nos outros e no futuro, bem como, provocado o empobrecimento da capacidade de agir.
(2) A política neoliberal que domina o mundo pela sua avidez, pelo lucro, não oferece nenhum horizonte social promissor e tem provocando efeitos psicossociais graves na sociedade. Tem se tornado numa máquina de excluir e concentrar riquezas, aumentando o número de pobres e os excluindo da partilha de bens, gerando frustrações e violências.
Pelo excesso de competitividade e de avidez de lucros, da pilhagem e da contaminação dos recursos naturais indispensáveis à vida, essa ideologia, atinge os indivíduos, a família e os grupos humanos. Tudo isso tem ocasionado fraturas nos vínculos humanos e fragilizando-os em um contexto marcado pela competitividade, desconfiança e insegurança, gerando uma “precariedade pervertida”, “negativa”, agravando o quadro da saúde mental.
Precisamos estar atentos, como cuidadores, para não transformarmos a “precariedade saudável” em “precariedade doentia”, agravando o quadro de desespero, gerando sofrimentos. Se na vida saudável já precisamos uns dos outros, na doença e no sofrimento, precisamos ainda mais. Na doença, o individuo fica ainda mais vulnerável, gerando uma total dependência do cuidador, que pode infligir ao paciente um sofrimento ainda maior do que sua própria doença.
Por isso, nós Terapeutas Comunitários, precisamos estar atentos para não gerar uma precariedade doentia que transforma o outro em um objeto de nossa intervenção. É verdade que o cuidado se situa no campo da precariedade, da vulnerabilidade. Não podemos esquecer que cada participante da Roda de TCI é um parceiro ativo e que ele dispõe de recursos pessoais, familiares e culturais de suma importância em seu processo de superação das dificuldades.
Descobrimos que a precariedade, está também em nossos modelos, em nossa visão de mundo. É a consciência destas limitações, que nos leva a pedirmos apoio aos colegas, a termos uma ação interdisciplinar e nos cuidarmos. Dai porque os congressos oferecem oportunidades para nos enriquecermos com a experiência de outros colegas em outros contextos.
Numa sociedade cada vez mais individualista e excludente, provoca efeitos psicossociais, que comprometem simultaneamente o individuo e o vínculo social e atingem a saúde mental de todos. Uma sociedade que exclui e impede as pessoas de exercer suas potencialidades naturais e culturais, tornando-as mais frágeis, vulneráveis e dependentes.
Este sentimento de incapacidade, de descrença em seus próprios potenciais reforça a marginalização dos indivíduos dentro do corpo social e os conduz a auto-boicotes e violências fratricidas. Este contexto tem forte potencialidade a tornar os humanos enlouquecidos pela angustia e incertezas no que se refere aos vínculos sociais e atinge as bases simbólicas das culturas e das pessoas.
Somos uma pluralidade étnica afro-indígena-europeu-asiática. Esta pluralidade é uma riqueza para toda a sociedade brasileira. Querer impor apenas uma maneira de ver e cuidar seria de uma pobreza imensa. Talvez o espírito predador do colonizador ainda precisa ser trabalhado, quando pretendemos acolher o sofrimento do outro.
A maioria das vezes, a relação de ajuda é baseada numa relação vertical onde ha um especialista que doa e um indivíduo que recebe. Ora, esta atitude priva o profissional da extraordinária riqueza do saber adquirido pela experiência de vida de cada um, sobretudo daquela pessoa que vive grande dificuldade.
Paulo Freire, no campo da educação, (3) nos lembra que toda aprendizagem é uma construção comum e que não se pode realmente aprender, se não aprendemos alguma coisa com o outro. Nossa experiência com a Terapia Comunitária Integrativa nos mostra que ocorre a mesma coisa na relação de ajuda. Na arte de cuidar como na arte de educar, existe uma circularidade.
Eu ensino e eu aprendo com o outro. Neste momento de partilha de experiência vamos guardar a simplicidade como vetor destes encontros. A Complicação é um instrumento de poder, que deseja impor sua superioridade afirmando que seu saber é tão complexo que o outro deve submeter a si. A simplicidade nos permite abandonar, se livrar do poder sobre os outros para poder ser com os outros.
A simplicidade nos permite resgatar o essencial – ‘menos papel em torno do bombom’. Precisamos encontrar em cada um de nós a criança interior, resgatar a sabedoria tradicional de nossos antepassados. Teorizar pouco e sempre a partir da experiência vivenciada. A aprendizagem não consiste em acrescentar complexidade aos conhecimentos, mas ao contrário, desnudar-se.
Desejo a cada congressista, que aproveite esta oportunidade para agregar valor a sua prática. Estamos reunidos para compartilhar experiências do que se vive e não impor aos outros o que se sabe.
Fortaleza, 27 de agosto 2015

sábado, 31 de outubro de 2015

A Terapia Comunitária Integrativa e a recuperação da pessoa humana

Por Rolando Lazarte*

Você pode ser quem você é. Você pode estar aqui, presente. 

Dias atrás, e agora, estas palavras tem vindo à minha mente com força. Você pode ser quem você é. Você já pensou nisso? Você não precisa se tornar outra pessoa, você pode ser a pessoa que você é. Isto parece absurdo, ou uma obviedade, mas não o é. 

A maior parte de nós, desde pequeno, aprende a se distorcer para agradar, aprende a negar a si próprio, para ser aceito ou aceita. A vida vai indo, o tempo vai passando, e as distintas circunstâncias, as sucessivas adaptações, vão nos distanciando tanto do ser que somos, que em algum momento, podemos não saber mais quem somos. 

A cultura, a sociedade, vão pressionando no sentido da des-personalização. Mas essas mesmas cultura e sociedade, também criam, simultâneamente, mecanismos de recuperação da pessoa humana. Mecanismos que trazem a pessoa de volta para ela mesma. 

Melhor dizendo, esses mecanismos, criam possibilidades concretas para que a pessoa possa novamente ser quem ela é. A pessoa encontra espaços em que é aceita, em que ela não precisa se negar para ser admitida no meio das outras pessoas. 

A Terapia Comunitária Integrativa é um desses espaços, é um desses mecanismos que estimulam o auto-reconhecimento e a auto-aceitação da pessoa tal qual ela é. Eu comecei a contatar a TCI em 2004, quando ela chegou em João Pessoa, no conjunto dos Ambulantes, em Mangabeira. 

E, a partir desse momento, não pude mais deixar de seguir na trilha do auto-conhecimento e da auto-aceitação. Este caminho é contínuo. Eu me via no meio de pessoas simples, pobres materialmente, mas ricas humanamente. Elas tinham uma alegria de viver. 

Eu via elas cada vez mais alegres, mais contentes consigo próprias, mais motivadas para viver uma vida mais autêntica. Isto ia me contagiando. Também ganhei coragem, e trouxe para a roda as dores e dificuldades que me atormentavam. 

Ao invés de explicações e interpretações ou conselhos, encontrei acolhimento e compreensão, simpatia e apoio. Tinha passado durante anos por diversos tipos de terapias, e cada vez estava mais longe de mim mesmo, afundado cada mais no estranhamento e na depressão. 

Comecei a voltar, fiz a minha formação em TCI, e comecei a colaborar em formações em TCI e em sensibilizações, acompanhando também cursos de Cuidando do Cuidador. Incorporei-me à rede da TCI. 

Hoje posso dizer que para mim, a mensagem essencial e mais efetiva da TCI para a pessoa que está em busca dela mesma é: você pode ser. Você pode ser você mesmo, exatamente do jeito que você é. E esta mensagem chega a você de maneira ao mesmo tempo compreensiva, racional, lógica, e vivencial, emocional, experimental. 

domingo, 25 de outubro de 2015

A pedagogia de Paulo Freire e a Terapia Comunitária Integrativa

Por Rolando Lazarte*

Há vários aspectos da pedagogia de Paulo Freire que se encontram incorporados na Terapia Comunitária Integrativa. Dentre eles, cabe aqui mencionar a criticidade (como oposta à visão ingênua, alienada, do mundo), a contextualização, a problematização, o caráter dialógico da construção do conhecimento --e, mais, da construção da realidade--, a noção do opressor introjetado no oprimido –como um obstáculo à liberdade-- , e a noção de que o processo educativo é sempre de duas vias: todos aprendem, o educador e o educando, isto é: todos somos educadores-educandos, por um lado, e, por outro, a noção de que todos somos geradores de saberes e de visões de mundo irredutíveis umas às outras, em um movimento contínuo de mútua contradição e complementariedade. A compreensão de que a vida é um processo incompleto, é outra das características do pensamento de Paulo Freire.

Estas noções são algumas que se apresentam como relevantes. Podem parecer muito simples, mas –talvez como conseqüência dessa mesma simplicidade-- o seu efeito libertador nas rodas de Terapia Comunitária Integrativa, e na formação de terapeutas comunitários –toda terapia comunitária tende a ser um processo constante de auto-descoberta e libertação—é muito evidente e constante.

Ver as coisas em processo, se ver no processo de oposições e de contradições que é a vida. Poder se ver no contexto das circunstâncias em que cada um foi sendo moldado, passando a ser um analista de si mesmo e das pessoas em redor, e não mais espectador passivo. Se perceber como co-responsável na criação das circunstâncias em que se vive e se luta, nas quais se descobrem recursos próprios e coletivos para a emancipação do que oprime, e não mais como vítima. Se perceber, portanto, como sujeito construtor de modos de vida e visões de mundo, de relações sociais que oprimem, mas também podem e devem libertar, em outras palavras, assumir a pessoa que se é e que se está sendo, o destino que se quer realizar. Ou seja: sujeito ativo, criativo, capaz (o eu posso individual e coletivo), autor das próprias escolhas e dono da própria vida. Tudo isto em movimento, ou seja: não mais a vida como passividade, submissão, aquiescência, mas como atividade, criatividade, compromisso consciente.

É possível reconhecer no pensamento de Paulo Freire, a marca de pensadores como Sócrates, Karl Marx, Max Weber, e Martin Buber. Os ensinamentos de Jesus Cristo também tem sido rastreados como uma das fontes de inspiração da pedagogia freireana1

A pedagogia de Paulo Freire é muito mais do que os procedimentos que costumam ser citados ao se referir a ela. Tal como a Terapia Comunitária, o método Paulo Freire é uma forma de ver o mundo, de ler a realidade e a si mesmo, de agir significativamente em grupo e individualmente, a partir de valores e formas de perceber geradas num encontro mutante com a matriz socio-cultural e histórica a que se pertence. As tentativas de resumir estes dois grandes movimentos sociais --em boa medida entrelaçados e mutuamente implicados—a alguns dos seus traços carcterísticos, podem levar a visões estereotipadas afastadas do que se quer conhecer, isto é: dois grandes movimentos sociais gerados no Nordeste brasileiro, expandidos pelo país inteiro, em perpétuo processo de mudança interna, avançando de maneira lenta, mas firme, em direção a formas mais humanas de existência. O movimento de educação popular de Paulo Freire e a Terapia Comunitária Integrativa agem pela base, a partir de movimentos sociais, ou os gerando, modificando a consciência do oprimido em direção à sua libertação prática, não teórica ou ideológica.

Um dos eixos desta ação libertadora, talvez o principal, no meu ponto de vista neste momento, é a recuperação da auto-estima de pessoas e comunidades. Esta recuperação da auto-estima, está ligada à libertação da pessoa e das comunidades, dos estereótipos e dos preconceitos internalizados, que os faziam se repudiar e se desconhecerem a si mesmos, por terem introjetado a visão do opressor. Isto fica claro numa menção que Paulo Freire faz em A pedagogia da Autonomia, á forma como um favelado passou a ver a si mesmo, já não mais como uma vítima ou alguém indesejável, mas como m sujeito vitorioso, vencedor, por ter-se organizado e mobilizado coletivamente em favor do bem comum. Na Terapia Comunitária Integrativa, esta mesma recuperação da auto-estima, ocorre a partir do momento em que as pessoas passam a se perceberem já não apenas enquanto alguém que cumpre obrigações, papéis sociais, mas como alguém com direito a existir, a ser ele mesmo, a pessoa, o ser humano que é, e não o eu os outros pensam a seu respeito ou o que os outros querem que a pessoa seja.

A pedagogia de Paulo Freire foi gestada em um contexto de mobilização social e política latino-americana e mundial, no fim dos anos 1950 e começo dos anos 1960. Era um período marcado por rebeliões estudantis e por mudanças políticas em direção ao socialismo. Em A pedagogia do oprimido, Paulo Freire questiona o revolucionarismo, como oposto à radicalidade. No primeiro, se mantém ou pretende-se manter a tutela sobre os oprimidos, em nome da sua libertação. A segunda, envolve uma mudança geral, em que os que tosas as pessoas se mobilizam na construção de uma sociedade emancipada.

As advertências de Paulo Freire resultam proféticas, olhando retrospectivamente o panorama dos processos políticos das últimas décadas no nosso continente e no mundo. Em particular, o agir dos movimentos guerrilheiros e dos regimes do chamado socialismo real, bem como as ditaduras e as suas continuidades neoliberais.

A vigência e o vigor da sua pedagogia permanecem atuais, na medida em que outros movimentos sociais, como a Terapia Comunitária Integrativa, aprenderam estas lições; cada um de nós é o mundo a ser mudado, e não há líderes nem partidos ou instituições que possam nos libertar, se não assumirmos nós mesmos a responsabilidade e as conseqüências de termos tomado a decisão de sermos os autores do nosso próprio destino, com autonomia.
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* Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental Comunitária da Universidade Federal da Paraíba GEPSMEC-UFPB, e do Movimento de Saúde Comunitária da Paraíba MISC-PB. Sociólogo e terapeuta comunitário.
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1 Alder Julio Ferreira Calado, “Rastreando fontes da utopia freireana: marcas cristãs e marxianas do legado de Paulo Freire”: http://consciencia.net/rastreando-fontes-da-utopia-freireana-marcas-cristas-e-marxianas-do-legado-de-paulo-freire-por-alder-julio-ferreira-calado/

terça-feira, 2 de setembro de 2014